Cromeleque dos Danados: 2022

11 outubro 2022

O menino

José estugou o passo adiante de Maria. Uma ansiedade estonteante compelia-o para encontrar abrigo. Uma ansiedade ao doudo. Por instantes, vislumbrou um caminho desbravado além de uma moita, que metia para uma espécie de nicho. José atirou para ali desabrido. "Vem, Maria..." Disse ele debaixo do céu cristalino. 
- E como achas que posso? - disse Maria. - Estás acometido. 
O homem malhou entre a vegetação, vingando as ervas. "Desculpa - murmurou entre os dentes feéricos - eu ajudo."
Todavia, parecia-lhe impossível transpôr o baldio com a mulher de alçada, ali respigados. "Ajuda-me, Zeca" - disse Maria, àquela hora da noite, desesperançados. 
- Ó meus filhos - disse uma voz à boca do nicho com uma tocha em riste. - Que é de vós? Baltazar, ajuda o homem. 
Pelo que surgiu um segundo indivíduo de mãos na anca. Neste somenos, surgiu um outro par de olhos pela luz do archote. Ora, um negro vindo das profundezas. Nada mais -- conquanto o sorriso desencantador, quiçá mais ostensivo e fogoso.
- Sou Belchior, menina. 
Os três homem trouxeram portanto os dois jovens para o nicho na montanha. Maria estava endemoninhada, e sentiu dentro de si um acometimento. "José, está na hora! Está na hora!"
- Forca, menina - desatou Belchior diante do suplício. - Força! 
José estava entregue aos bichos. Como se não bastasse, a luz do archote impregnava seu rosto aquilino de uma  fealdade expressionista que assustaria o comum dos homens. Estava ali, assomava-lhe a víscera por estranhos e misteriosos meios "Jorre para aquele lado, menino." - disse Belchior.
- Força! Força! 
Maria era tomada pela dor aterrorizante entre cada fôlego. Expirava, mas assim que o ar lhe ocupava os pulmões, a dor assomava-lhe exponencial. 
- Olha a cabeça do bebê - disse Belchior com um sorriso cândido nos olhos. Os outros dois, ocupados na faxina da água e do ministério da limpeza, sorriram.
- Menina, sem demoras. Força - disse Belchior fazendo uma cara rigorosamente feia em todo e qualquer retrato, todo ele verde para qualquer devaneio pictórico. Força!
Belchior recebeu Jesus nos braços, pendurou o mancebo pelas pernas não fosse o gesto incauto, e enrolou-o numa toalha cuidadosamente preparada pelos dois amigos. O pranto deu lugar ao sorriso beatifico de Maria. "O meu filho. Filho de Deus"
- Eu também - disse Belchior.

09 setembro 2022

Os Conversadores

Esta é uma história verídica sobre uma peripécia que teve evento no meu antigo apartamento, uma história de arrepiar cabelo, senão mais terrífico. Nessa fase da minha vida eu andava à procura de vencer uma insónia que me assolou a vida durante praticamente um ano. Digamos que foi numa fase mais difícil. Simplesmente não era capaz de dormir àquela hora precisa da noite. Porque eu gosto de dormir - e quando quero dormir, é impreterível para mim que seja antes da meia noite. Portanto, não quer dizer que fora um problema maior. É certo que muitas das vezes só achava cama por volta das 6 horas da manhã. Foi numa dessas noites que decidi fumar um cigarro. Lembro-me que lutava dentro de mim por achar sono. Neste somenos, denoto, não sem uma crispada surpresa, três baratas em amena cavaqueira. Não, não é possível. Ali estavam elas num círculo entre si, numa conversa muito consentânea. Pareciam três estrategas. As tantas reparei que elas estiravam as pequenas patas numa interjeição. O que aconteceu seguidamente não é da minha natureza, até porque eu amo todos os animais sem excepção: acabei com aquela assombro com o chinelo. Sim, sei que parece horroroso e emporcalhado, mas pus um fim àquilo. Esta é a história d' Os Conversadores.

A fuga ou a génese de um eco cosmológico

A fuga ou a génese de um eco cosmológico Se num momento o tempo parasse sabias que nos moldes onde me encontro haveria um espasmo um big ban...