Cromeleque dos Danados: março 2020

27 março 2020

Vasos capilares

Desde o início que o homenzinho tisnado e severo me provocou enjoo. Era uma espécie de príncipe adornado e mesquinho a quem todos chamam a sua macaquinha. Todavia, tornara-se perverso e frívolo como uma mulher frágil. Era sobretudo aquela obscenidade latente nos olhos endurecidos, na porca luxúria de ensejos abaulados por tudo o que respirasse sensualidade. A minha infância decorreu sem quaisquer privações, muito burguesmente instalado na casa da minha infância. A adolescência veio com o seu estribilho inconsequente para agarrar as saias com bolinhas amarelas das putéfias de olhos tigrados. Entretanto eu consolidei a minha amizade com o homenzinho tisnado e severo; mas sentia um dó crescendo quando este arreganhava os dentes pornográficos. Sentia um dó lastimável e nauseante da sua vilania, daquela vilania que alberga na sua boca preta. O dedo hirto - é tudo quanto eu me posso recordar. Depois veio a censura. Tornara-se acérrimo delactor da minha pessoa. Era vê-lo arreganhar os dentes para passar um pente fino pelo meu carácter.


23 março 2020

O senhor Querubim

O senhor Querubim estava a modos que a repousar na beira da cama após uma faxina copiosa pelo quarto. Neste somenos, adormeceu. Foi um viagem e tanto. Estava na terra do sono mais profundo. Teresa de Jesus estava contrafeita. Nunca viu semelhante. «Tipo panão.» O facto do senhor Querubim ter aspirado o seu quarto e esfregado o chão mesmo nos compartimentos contíguos, não oferecia ao leitor a verdadeira grandeza sobre o que ele sentia pelo trabalho. O tédio mortal corroía a sua alma jovem. E não menos importante as palavras de Teresa de Jesus: «Só lá vai com o pau de marmeleiro.»
- Acorda, malandrim. - Mas o senhor Querubim estava pespegado. 
Até àquele momento o senhor Querubim estivera a sonhar. Nunca antes lhe havia sucedido semelhante, pois rumorejava. Sonhou que o mundo havia sucumbido a uma Peste. Vejamos, portanto, em que sonha o senhor Querubim.
O senhor Querubim estava a passear pela cercania quando se acercou de um muro alto. Esse murro alto ladeava um terreno baldio para uma via férrea. Ao descer por uma escadas íngremes através desse muro, constatou que havia uma fonte em pedra desbravada no solo. Continuou o caminho deprimido, deparando-se com a via férrea do outro lado de uma cerca alta para eventuais suicidas. E ali permaneceu, observando os comboios passar. À medida que os comboios passavam, apercebeu-se que as pessoas eram levadas para o confim. As pessoas estavam debilitadas, soltavam uivos desesperados, e Querubim permanecia impávido. Porém, algo o despertou daquela sensação algo trágica de abandono. Por cima da sua cabeça, debruçada sobre o muro, Teresa de Jesus chamava por ele por meio de trejeitos com um pau de marmeleiro. «Seu malandrim!»
- Vamos ser trucidados! - respondeu no mesmo tom à medida que é confrangido pelo vento.
- Ó homem, acorda. Estás maluquinho? É açorda!
Agora eram duas mulheres.
- Estávamos a olhar para ti. Que jeito!

A fuga ou a génese de um eco cosmológico

A fuga ou a génese de um eco cosmológico Se num momento o tempo parasse sabias que nos moldes onde me encontro haveria um espasmo um big ban...